SEGUE-SE O CONHECIMENTO DA MENTE, DA PERCEPÇÃO, DA REALIDADE, CHAMADA AUTOLIBERAÇÃO, DA “DOUTRINA PROFUNDA DA AUTOLIBERAÇÃO PELA MEDITAÇÃO DAS DEIDADES PACÍFICAS E IRADAS”
PARTE I. PRELIMINARES INTRODUTÓRIAS
[A LOUVAÇÃO]
Os Divinos Tri-Kaya, Que são a Corporificação da Própria Mente Todo Esclarecida, louvo.
[PREÂMBULO]
Este tratado pertence ao “A Doutrina Profunda da Auto liberação pela Meditação das Deidades Pacíficas e Iradas”
Ele expõe a Ioga do Conhecimento da Mente, da Percepção da Realidade, da Auto liberação.
Por este método, entende-se a mente.
[A PRIMEIRA INSTRUÇÃO DO GURU AOS DISCÍPULOS E A INVOCAÇÃO]
Ó discípulos abençoados, ponderai profundamente sobre estes ensinamentos.
Samayã; gya, gya, gya.
E-ma-ho!
[SAUDAÇÃO À MENTE ÚNICA]
Toda aclamação à Mente Única, que abraça todo o Sangsãra e o Nirvana,
Que é eternamente aquilo que é, não obstante seja desconhecida,
Que embora sempre clara e sempre existente, não é visível,
Que embora radiante e não obscurecida, não é reconhecida.
[ESTES ENSINAMENTOS SUPLEMENTAM OS ENSINAMENTOS DOS BUDAS]
Estes ensinamentos têm o propósito de vos capacitar a conhecer esta Mente.
Tudo o que foi ensinado até agora pelos Budas dos Três Tempos, graças ao conhecimento que Eles tinham desta Mente, tal como ficou registrado em “A Porta do Dharma”, consistindo de Oitenta e Quatro Mil Shlokas e outros registros, permanece incompreensível.
Os Conquistadores não ensinaram mais nada com relação à Mente Única em outros registros.
Embora sejam tantas quanto o céu infinito, as Sagradas Escrituras contém apenas umas poucas palavras relativas ao conhecimento da mente.
Esta, a verdadeira explicação destes ensinamentos eternos dos Conquistadores, constitui o método correto da sua aplicação prática.
[A SEGUNDA INSTRUÇÃO DO GURU AOS DISCÍPULOS]
Kye, Kye, Ho!
Discípulos abençoados, ouvi.
[O RESULTADO DO DESCONHECIMENTO DA MENTE ÚNICA]
O conhecimento daquilo que é vulgarmente chamado de mente é muito difundido.
Visto que a Mente Única é desconhecida, ou erroneamente percebida, ou conhecida apenas em parte, sem ser completamente conhecida tal como ela é, o desejo por estes ensinamentos será imensurável. Eles também serão procurados por indivíduos comuns que, sem conhecerem a Mente Única, não se conhecem a si mesmos.
Eles vagam de lá para cá, nas Três Regiões, e, dessa forma, entre as Seis Classes de seres, em aflição.
Tal é o resultado do erro de não ter atingido a compreensão da mente.
E porque o seu sofrimento oprime de todos os modos, até mesmo o autocontrole lhes falta.
Dessa forma, embora desejem conhecer a mente como ela é, fracassam.
[O RESULTADO DOS DESEJOS]
Outros, de acordo com a sua própria fé e seu próprio modo de vida, tendo sido dominados pelos desejos, não podem perceber a Clara Luz.
Eles estão esmagados pelo sofrimento e estão na escuridão por causa do sofrimento.
Embora o Caminho do Meio contenha a Verdade Dupla, por causa dos desejos, ela finalmente se obscurece.
Os desejos também obscurecem o Kriya-Yoga e o Seva-Sadhana, e até mesmo os maiores e mais sublimes estados da mente.
[A RECONCILIAÇÃO TRANSCENDENTE]
Não existindo, na realidade, nenhuma dualidade, o pluralismo não é verdadeiro.
Até que a dualidade seja transcendida, e realizada a reconciliação, o Esclarecimento não pode ser atingido.
De um modo geral, o Sangsãra e o Nirvana, como uma unidade inseparável, são a nossa mente.
[A GRANDE AUTOLIBERAÇÃO]
Graças às crenças mundanas, as quais é livre para aceitar ou rejeitar, o homem vaga pelo Sangsãra.
Por conseguinte, praticando o Dharma, livre de qualquer apego, compreendei toda a essência dos ensinamentos expostos nesta Ioga da Auto liberação pelo Conhecimento da mente em sua Natureza Real.
As verdades aqui comunicadas são conhecidas como “A Grande Auto liberação”; nelas culmina a Doutrina da Grande Perfeição Última.
[A TERCEIRA INSTRUÇÃO DO GURU AOS DISCÍPULOS]
Samayã; gya, gya, gya.
[A NATUREZA DA MENTE]
Isso que comumente é chamado de mente pertence à Sabedoria intuitiva.
A Mente Única é, embora não tenha existência.
Sendo a fonte de toda a bem-aventurança do Nirvana e de todo o sofrimento do Sangsara, ela é acalentada como os Onze Yanas.
[OS NOMES DADOS À MENTE]
Os nomes que lhe são dados são inúmeros.
Alguns a chamam de “O Self Mental”.
Alguns heréticos a chamam de “O Ego”.
Os Hinayanistas a chamam de “A Essencialidade das Doutrinas”.
Os Yogachara, de “Sabedoria”.
Alguns a chamam de “Os Meios de Atingir a Outra Margem da Sabedoria”.
Alguns a chamam de “A Essência de Buda”.
Alguns a chamam de “O Grande Símbolo”.
Alguns a chamam de “A Semente da Única”.
Alguns a chamam de “A Potencialidade da Verdade”
Alguns a chamam de “O Todo Fundamento”.
Outros nomes, na linguagem comum, também lhe são dados.
[PARTE II. A APLICAÇÃO PRÁTICA]
[A INTEMPORALIDADE DA MENTE]
Sabendo-se como aplicar de maneira tripla este conhecimento da mente, todo o conhecimento passado, perdido na memória, torna-se perfeitamente claro, assim como o conhecimento do futuro, que se tem como não nascido e inconcebido.
No presente, quando a mente permanece como é, de forma natural, é comumente compreendida no seu próprio tempo.
[A MENTE NO SEU VERDADEIRO ESTADO]
Quando procurais a vossa própria mente no seu verdadeiro estado, vós a encontrais plenamente inteligível, embora invisível.
No seu verdadeiro estado, a mente é despida, imaculada; não é feita de nada, sendo o Vazio; é clara, vácua, sem dualidade, transparente; é intemporal, não composta, desimpedida, incolor; não perceptível como algo separado, mas como a unidade de todas as coisas, embora seja por elas composta; tem um só sabor e transcende a qualquer diferenciação.
Nem é uma mente separável das demais mentes.
Perceber o ser quintessencial da Mente Única é perceber a imutável reconciliação do Tri-Kaya.
Sendo a mente como o Incriado, pertencente ao Vazio, ao Dharma-Kaya; com o Vácuo e Auto Radiante, ao Sambhoga-Kaya; e como o Não Obscuro, brilhando para todas as criaturas vivas, ao Nirmana-Kaya; assim, ela é A Essência Primordial onde os Três Aspectos Divinos são Um.
Se a aplicação iogue desta Sabedoria for completa, compreender-se-á o que foi exposto acima.
[A MENTE É INCRIADA]
Sendo a mente em sua verdadeira natureza incriada e auto radiante, como pode alguém afirmar que ela é criada?
Não havendo nesta ioga nada objetivo sobre que meditar, como pode alguém, sem ter verificado a verdadeira natureza da mente pela meditação, afirmar que ela é criada?
Sendo a mente em seu estado verdadeiro a Realidade, como pode alguém, sem ter descoberto a sua própria mente, afirmar que ela é criada?
Sendo a mente em seu estado verdadeiro indubitavelmente sempre existente, como pode alguém, sem tê-la visto frente a frente, afirmar que ela é criada?
Sendo o princípio de pensamento parte da própria essência da mente, como pode alguém, sem tê-la procurado e encontrado, afirmar que a mente é criada?
Sendo a Mente transcendente à criação e, dessa forma, compartilhando do Incriado, como pode alguém afirmar que a mente é criada?
Estando a mente em sua naturalidade primordial e imutável, incriada, como deveria ser aceita, e sem forma, como pode alguém afirmar que ela é criada?
Visto que a mente também pode ser aceita como sendo destituída de qualidade, como pode alguém se aventurar a afirmar que ela é criada?
Sendo a mente auto nascida e desqualificada, semelhante aos Três Vazios indiferenciados, imutável, como pode alguém afirmar que ela é criada?
Sendo a mente sem objetividade nem causa, auto originada, auto nascida, como pode alguém, sem ter-se empenhado em conhecê-la, afirmar que ela é criada?
Visto que a Sabedoria Divina se manifesta de acordo com o seu tempo, emancipando o ser, como podem os oponentes desse ensinamento afirmar que ela é criada?
Sendo a mente, como é, pertencente a esta natureza e, dessa forma, incognoscível, como pode alguém afirmar que ela é criada?
[IOGA DA INTROSPECÇÃO]
Pertencendo a Mente Única verdadeiramente ao Vazio e não tendo qualquer princípio, vossa mente é, da mesma forma, tão vazia quanto o céu. Para saber se é ou não assim, olhai para a vossa própria mente.
Pertencendo ao Vazio e, por conseguinte, não sendo concebível que tenha começo ou fim, a Sabedoria Auto nascida, na realidade, brilha para sempre, como a essencialidade do Sol, não nascido Para saber se é ou não assim, olhai para a vossa própria mente.
A Sabedoria Divina é indubitavelmente indestrutível e inquebrantável como a corrente contínua de um rio. Para saber se é ou não assim, olhai para a vossa própria mente.
Sendo apenas um fluxo da instabilidade, assim como o ar do firmamento, as aparências objetivas não tem o poder de fascinar e prender. Para saber se é ou não assim, olhai para a vossa própria mente.
Todas as aparências são, na verdade, os vossos próprios conceitos auto concebidos na mente, como os reflexos vistos num espelho. Para saber se é ou não assim, olhai para a vossa própria mente.
Surgindo de si mesmas e sendo naturalmente libres como as nuvens do céu, todas as aparências externas, na verdade, desaparecem nos seus próprios e respectivos lugares. Para saber se é ou não assim, olhai para a vossa própria mente.
[O DHARMA INTERIOR]
Não estando o Dharma em lugar algum a não ser na mente, não existe nenhum outro lugar para meditação além da mente.
Não estando o Dharma em lugar algum a não ser na mente, não existe nenhuma outra doutrina a ser ensinada ou praticada em qualquer outro lugar.
Não estando o Dharma em lugar algum a não ser na mente, não existe nenhum outro lugar de verdade para a observância de um voto.
Não estando o Dharma em lugar algum a não ser na mente, não existe nenhum Dharma em qualquer outro lugar através do qual a Liberação possa ser alcançada
De novo, olhei para a vossa própria mente.
Ao se olhar para fora, para a vacuidade do espaço, percebe-se que não existe lugar algum onde a mente esteja brilhando.
Ao se olhar para dentro, para a própria mente, em busca do brilho, nada se encontra que brilhe.
A vossa mente é transparente, sem qualidade.
Pertencendo à Clara Luz do Vazio, a vossa própria mente pertence ao Dharma-Kaya e, sendo vazia de qualidade, é comparável a um céu sem nuvens.
Ela não é a multiplicidade e é onisciente.
Muito grande, na verdade, é a diferença entre saber e não saber a importância desses ensinamentos.
[A MARAVILHA DESTES ENSINAMENTOS]
Esta Clara Luz auto originada, eternamente não nascida, é um filho órfão da Sabedoria. É Maravilhoso.
Sendo não criada, é Sabedoria Natural. É maravilhoso.
Não tendo conhecido o nascimento, não conhece a morte. É maravilhoso.
Embora seja a Realidade Total, não existe o seu percebedor. É maravilhoso.
Embora vague pelo Sangsara, ela permanece imaculada pelo mal. É maravilhoso.
Embora perceba o Buda, ela permanece dissociada do bem. É maravilhoso.
Os que não conhecem o fruto desta ioga procuram outros frutos. É maravilhoso.
Embora a Clara Luz da Realidade brilhe dentro da vossa mente, a multidão por ela procura em outros lugares. É maravilhoso.
[O GRANDE CAMINHO QUÁDRUPLO]
Todo louvor a esta Sabedoria aqui apresentada, relativa à invisível e imaculada Mente!
Este ensinamento é o mais excelso de todos os ensinamentos.
Esta meditação, destituída de concentração mental, todo abrangente, livre de toda imperfeição, é a mais excelsa das meditações.
Esta prática, relativa ao Estado Incriado, quando compreendida corretamente, é a mais excelsa das práticas.
Este fruto da ioga, do eternamente Não Buscado, produzido naturalmente, é o mais excelso dos frutos.
Deste modo, nós revelamos corretamente o Grande Caminho Quádruplo.
Este ensinamento sem erro, este Grande Caminho, pertence à Clara Sabedoria aqui apresentada, a qual, sendo clara e infalível, é chamada de o Caminho.
Esta meditação sobre o infalível Grande Caminho pertence à Clara Sabedoria aqui apresentada, a qual, sendo clara e infalível, é chamada de o Caminho.
Esta prática relativa a este infalível Grande Caminho pertence à Clara Sabedoria aqui apresentada, a qual, sendo clara e infalível, é chamada de o Caminho.
O fruto deste infalível Grande Caminho pertence à Clara Sabedoria aqui apresentada, a qual, sendo clara e infalível, é chamada de o Caminho.
[A GRANDE LUZ]
Essa ioga também diz respeito à fundação da imutável Grande Luz.
O ensinamento desta inalterável Grande Luz pertence à incomparável Clara Sabedoria aqui apresentada, a qual, iluminando os Três Tempos, é chamada de “A Luz”.
A meditação sobre essa inalterável Grande Luz pertence à incomparável Clara Sabedoria aqui apresentada, a qual, iluminando os Três Tempos, é chamada de “A Luz”.
A prática relativa a esta inalterável Grande Luz pertence à incomparável Clara Sabedoria aqui apresentada, a qual, iluminando os Três Tempos, é chamada de “A Luz”.
O Fruto desta inalterável Grande Luz pertence à incomparável Clara Sabedoria aqui apresentada, a qual, iluminando os Três Tempos, é chamada de “A Luz”.
[A DOUTRINA DOS TRÊS TEMPOS]
A essência da doutrina relativa aos Três Tempos na reconciliação será agora exposta.
Não sendo praticada a ioga relativa ao passado e ao futuro, a memória do passado permanece latente.
Não sendo bem-vindo, o futuro é completamente separado do presente pela mente.
Não sendo fixo, o presente permanece no estado do Vazio.
[IOGA DO CAMINHO NIRVÂNICO]
Nada havendo sobre o que meditar, não existe nenhuma meditação.
Nada havendo que se perca, nada se perderá, se alguém for orientado pela memória.
Sem meditar, sem se perder, olhai para o Verdadeiro Estado, onde a autocognição, o autoconhecimento, o alto esclarecimento brilham resplandentemente. Estes, que assim brilham, são chamados de “A Mente Bodisáttvica”.
No Reino da Sabedoria, transcendente a toda meditação, naturalmente iluminadora, onde não há nenhuma perda, os conceitos vácuos, a auto liberação e o Vazio Primordial são o Dharmakaya.
Sem a percepção disto, o Objetivo do Caminho Nirvânico é inatingível.
Simultaneamente a esta percepção, o estado de Vajra-Sattva é percebido.
Estes ensinamentos que exaurem todo o conhecimento são extraordinariamente profundos e imensuráveis.
Embora seja contempláveis sob uma variedade de formas, para esta Mente da Sabedoria de autocognição e auto origem, não existem duas coisas tais como contemplação e contemplador.
Quando são exaustivamente contemplados, esses ensinamentos fundem-se em reconciliação com o buscador erudito que os procurou, embora o próprio buscador, quando procurado, não possa ser encontrado.
Em consequência disso, o objetivo da busca é alcançado, e ocorre também o fim da própria busca.
Então, nada mais existe a ser buscado, nem há necessidade de se buscar alguma coisa.
Esta Clara Sabedoria sem começo, vazia e inconfundível da autocognição é a mesma apresentada na Doutrina da Grande Perfeição.
Embora não existam duas coisas tais como conhecer e não conhecer, existem profundas e inúmeras espécies de meditação; e, no fim, é incomparavelmente sublime, conhecer a própria mente.
Não existindo duas coisas tais como o objeto da meditação e a pessoa que medita, se, pelos que praticam ou não praticam a meditação o que intenta a meditação for procurado sem ser encontrado, em razão disso o objetivo da meditação é alcançado, bem como o próprio final da meditação.
Não existindo duas coisas tais como a meditação e o objeto da meditação, não existe necessidade alguma de cair sob o domínio da profunda e obscurecedora Ignorância, pois como resultado da meditação sobre a imutável quintessência da mente, a Sabedoria não criada brilha instantaneamente de forma clara.
Embora exista uma variedade inumerável de práticas profundas, para própria mente em seu estado natural elas são não existentes, pois não existem duas coisas tais como existência e não existência
Não existindo duas coisas tais como prática e praticante, se, por aqueles que praticam ou não, o praticante for procurado sem ser encontrado, por conseguinte, o objetivo da prática foi conseguido, bem como o próprio final da prática.
Por conseguinte, como desde a eternidade nada existe para ser praticado, não há necessidade de cair sob a influência de propensões desnorteadas.
A Sabedoria não criada e auto radiante aqui apresentada, sendo inativa, imaculada, transcendente sobre a aceitação ou rejeição é, em si mesma, a prática perfeita.
Embora não existam duas coisas tais com o puro e o impuro, existe uma variedade inumerável de frutos da Ioga, todos os quais, para a própria mente em seu Estado Verdadeiro, são o conteúdo consciente do Tri-Kaya não criado.
Não existindo duas coisas tais como ação e realizador da ação, se alguém procurar o realizador da ação e não encontrar nenhum realizador em lugar algum, em consequência disso, o objetivo de toda a colheita do fruto é alcançado, bem como a própria consumação final.
Não existindo nenhum outro método, qualquer que seja, de colher o fruto, não há necessidade de cair sob a influência das dualidades, de aceitar ou rejeitar, confiar ou não confiar nestes ensinamentos.
A percepção da Sabedoria auto radiante e auto nascida, assim como a manifestação do Tri-Kaya na mente auto cognoscente é o próprio fruto da realização do Perfeito Nirvana.
[A EXPLICAÇÃO DOS NOMES DADOS A ESSA SABEDORIA]
Esta Sabedoria liberta das eternamente transitórias Oito Metas.
Por conseguinte, enquanto não cai sob a influência de qualquer extremo, é chamado de “O Caminho do Meio”.
É chamada de “Sabedoria” por causa da sua inquebrantável continuidade de memória.
Sendo a essência da vacuidade da mente, é chamada de “A Essência dos Budas”.
Se o significado destes ensinamentos fosse conhecido por todos os seres, como seria incomparavelmente excelente!
Por conseguinte, estes ensinamentos são chamados de “Os meios de Alcançar a Outra Margem da Sabedoria [ ou Sabedoria Transcendental]”.
Aos que já passaram para o Nirvana, esta Mente é tanto in-começável quando infindável; por conseguinte, é chamada de “O Grande Símbolo”.
Porquanto essa Mente, por ser conhecida e não ser conhecida, torna-se a base de todas as alegrias do Nirvana e de todas as tristezas do Sangsãra; é chamada de “A Base de Tudo”.
A pessoa impaciente, comum, enquanto habita o seu corpo carnal chama essa muito clara Sabedoria de “inteligência comum”.
Independentemente de qualquer nome elegante e vário que seja dado a essa Sabedoria como resultado de um completo estudo, que Sabedoria além dessa, aqui revelada, pode alguém desejar realmente?
Desejar mais do que essa Sabedoria é ser como aquele que procura um elefante seguindo os seus rastros, quando já encontrou o próprio elefante.
[IOGA DA IPSEIDADE]
É totalmente impossível, mesmo que alguém procure por todas as Três Regiões, encontrar o Buda em outro lugar que não a mente.
Embora aquele que ignore isso possa procurar conhecer-se externamente ou fora da mente, como é possível encontrar, quando procurado, outro que não a si mesmo?
Aquele que procura conhecer-se é como um louco dando um espetáculo em meio a uma multidão, esquecendo-se de quem é e, depois, procurando por toda parte encontrar-se.
Isto também se aplica ao que se desvia de outras formas.
A menos que se conheça, ou perceba, o estado natural das substâncias [ou coisas] e que se reconheça a Luz na mente, será impossível desprender-se do Sangsãra.
A menos que se perceba o Buda na própria mente, o Nirvana é obscurecido.
Embora a Sabedoria do Nirvana e a Ignorância do Sangsãra pareçam, ilusoriamente , ser duas coisas, elas não podem, na verdade, ser diferenciadas.
É um erro concebê-las de outra forma que não como uma.
Errar e não errar são, intrinsecamente, também uma unidade.
Ao não tomar a mente como uma dualidade natural e permitir que ela, assim como a consciência primordial, habilite o seu próprio lugar, os seres alcançam a libertação.
O erro de agir ao contrário disto nasce não da Ignorância na própria mente, mas do desconhecimento da Ipseidade.
Procurai dentro da vossa própria mente auto iluminada, auto originada, primeiramente, onde surgem todos esses conceitos e, em segundo lugar, onde eles existem e, por último, aonde desaparecem.
Essa realização é semelhante à da multidão que, embora já possua um tanque, corre para outro lugar qualquer para saciar a sede e, não encontrando nenhum outro lugar para beber, retorna ao tanque inicial.
Da mesma forma, a radiância que emana da Mente Única, ao emanar da própria mente, emancipa-a.
A Mente única, onisciente, vácua, imaculada, eterna, o Vazio Desobscurecido, vazio de qualidade, assim como o céu, Sabedoria auto originada, brilhando claramente, imperecível, é, Ela Mesma, a Ipseidade.
Todo o Universo visível também simboliza a Mente Única.
Ao se conhecer a Plena Consciência na própria mente, sabe-se que ela é tão vazia de qualidades quanto o céu.
Embora o céu possa ser tomada, provisoriamente, como exemplo da Ipseidade impredicável, ele apenas a representa de forma simbólica.
Porquanto a vacuidade de todas as coisas visíveis deva ser reconhecida meramente como análoga à vacuidade aparente do céu, destituída de mente, conteúdo e forma, o conhecimento da mente não depende do símbolo céu.
Por conseguinte, não extraviar-se no Caminho é permanecer naquele estado próprio do Vazio.
[A CIÊNCIA IOGUE DOS CONCEITOS MENTAIS]
Também os diversos conceitos, sendo ilusórios, não sendo real nenhum deles, desaparecem da mesma forma.
Assim, por exemplo, tudo o que for considerado como o postulado do Tudo, Sangsãra e Nirvana, surge apenas de conceitos mentais.
As mudanças no encadeamento do pensamento de alguém [ou associação de ideias] produzem mudanças correspondentes na sua concepção de mundo externo.
Por conseguinte, os vários pontos de vista que são concernentes às coisas se devem meramente ao fato de existirem diferentes conceitos mentais.
As seis classes de seres concebem as ideias de forma respectivamente diferentes.
Os não esclarecidos veem externamente a duplicidade externamente transitória.
As várias doutrinas são vistas de acordo com os próprios conceitos mentais.
Como uma coisa é vista, assim ela parece.
Ver as coisas como uma multiplicidade e, dessa forma, dividir-se em separatividade é errar.
Segue-se, agora, a ioga do conhecimento de todos os conceitos mentais.
A percepção da Radiância [desta Sabedoria ou Mente] que brilha sem ser conhecida é o Estado de Buda.
Não vos enganeis: não controlando os pensamentos, erra-se. Controlando e entendendo o processo do pensamento em nossa mente, atingimos automaticamente a emancipação.
De forma geral, todas as coisas mentalmente percebidas são conceitos.
As formas corporais nas quais o mundo das aparências está contido são também conceitos mentais.
“A quintessência das seis classes de seres” é também um conceito mental.
“A felicidade dos deuses no mundos celestes e a dos homens” é, também, outro conceito mental.
“Os três estados dolorosos do sofrimento” são, da mesma forma, conceitos mentais.
“Ignorância, miséria e os Cinco Venenos” são, da mesma forma, conceitos mentais.
“A plena realização da passagem para o Nirvana” também é um conceito mental.
“A infelicidade causada pelos demônios e espíritos maus” é também um conceito mental.
“Deuses e boa fortuna” são conceitos mentais.
“Inconsciente Direção Única” é também um conceito mental.
A cor de qualquer coisa objetiva é também um conceito mental.
“O desqualificado e o Informal” são conceitos mentais.
“O Um e o Muitos na reconciliação são também conceitos mentais.
“Existência e Não Existência”, bem como “o Não Criado”, são conceitos da mente.
[A PERCEPÇÃO E A GRANDE LIBERAÇÃO]
Nada, exceto a mente, é concebível,
A mente, quando desinibida, concebe tudo o que passa a existir.
Isso que passa a existir é como a onda de um oceano.
O estado da mente, quando transcendente sobre todas as dualidades, traz a liberação.
Não importa que nome possa descuidadamente ser dado à mente; a mente verdadeiramente é uma e, independentemente da mente, nada mais existe.
Essa Mente Única Singular é sem princípio e sem origem.
Nada mais há para ser percebido.
O Não Criado é o Não Visível.
Pelo conhecimento do Vazio invisível e da Luz Clara, sem vê-los separadamente – não existindo a multiplicidade no Vazio – a vossa própria mente clara pode ser conhecida; no entanto, a própria Ipseidade não é cognoscível.
A Mente está além da Natureza, mas é experimentada em formas corporais.
A percepção da Mente Única constitui a Plena Liberação.
Sem domínio dos processos mentais não pode haver percepção alguma.
Da mesma forma, embora a semente de gergelim seja a fonte de óleo, e o leite a fonte da manteiga, não antes que a semente seja pressionada e o leite batido é que aparecem o óleo e a manteiga.
Embora os seres sencientes pertençam à própria essência do Buda, não antes que percebam isso podem eles atingir o Nirvana.
Até mesmo um vaqueiro [ou uma pessoa analfabeta] pode, através da percepção, alcançar a Libertação.
[PARTE III. AS SEÇÕES FINAIS]
[CONCLUSÃO GERAL]
Embora lhe faltasse o poder de expressão, o autor fez aqui um registro fiel [das duas próprias experiências iogues].
Para aquele que provou o mel, é supérfluo explicar seu gosto aos que não o provaram.
Sem conhecer a Mente Única, até mesmo os pandits se perdem, apesar da sua inteligência em expor os muitos sistemas doutrinais diferentes.
Dar ouvidos aos relatos de quem nem se aproximou nem viu o Buda nem por um momento é como dar atenção aos rumores feitos de passagem, fugidios, relacionados a um lugar distante, que nunca se visitou.
Simultaneamente com o conhecimento da Mente vem o desprendimento do Bem e do Mal.
Se a mente não é reconhecida, toda a prática do Bem e do Mal resulta em nada mais do que Céu, Inferno, ou Sangsãra.
Logo que a nossa mente se conhece como pertencente à Sabedoria do Vazio, os conceitos, como o de bom e mau karma, deixam de existir.
Assim como no céu vazio parece existir, mas não existe, uma fonte de água, assim também no Vazio não existe nem o Bem e nem o Mal.
Quando a nossa mente é, dessa forma, conhecida em sua nudez, esta Doutrina de Ver a mente em Sua Nudez, esta Auto liberação é vista como excepcionalmente profunda.
Buscai, por conseguinte, a vossa própria Sabedoria dentro de vós mesmos.
Ela é a Profundeza Ampla.
[OS BONS VOTOS FINAIS]
Salve todos! Este é o conhecimento da Mente, a Percepção da Realidade, a Auto liberação.
Para as futuras gerações, que nascerão na Idade das Trevas, estes aforismos essenciais, necessariamente breves e concisos, aqui apresentados, foram escritos de acordo com o ensinamentos tântricos.
Embora tenha sido ensinados na presente época, seu texto foi escondido num esconderijo de coisas preciosas.
Que este Livro possa ser lido por esses devotos abençoados do futuro.
[A ÚLTIMA INSTRUÇÃO DO GURU AOS DISCÍPULOS]
Samaỹa; gya, gya, gya.
[Vasta, vasta, vasta é a Sabedoria Divina.]
[COLOFÃO]
Estes ensinamentos, chamados de “O Conhecimento da Mente em sua Realidade Auto Identificadora, Auto Realizadora e Auto Liberadora” foram formulados por Padma Sambhava, o Professor espiritualmente dotado de Urgyãn.
Que eles não empalideçam até que todo o Sangsãra se esvazie.