A Partida para a Índia
O
mestre Padmakara [Padmasambhava] voltou sua atenção para os
rakshasas que viviam em Lankapuri, a Terra dos Rakshasas, que é com
um cabo de machado no continente de Jambu e que está próximo do
país de Uddiyana. Ele viu que os rakshasas iriam invadir e destruir
a Índia, o Nepal, o Tibet e assim por diante, destruindo a raça
humana. O mestre Padma viu a necessidade de se defender contra os
rakshasas a fim de conceder o presente do não-medo às pessoas do
continente de Jambu. Ele decidiu deixar o glorioso Samye e ir ao topo
da Gloriosa Montanha Cor-de-cobre.
Nesta hora, o príncipe Mutig Tsenpo e outros reis tibetanos, os ministros, os praticantes ordenados masculinos e femininos, os meditadores, yogis, curadores, copiadores e recitadores, governantes, mulheres, benfeitores masculinos e femininos — resumindo, todo o povo do Tibet — imploraram que ele permanecesse, mas ele não consentiu. Ao invés disso, ele cantou esta canção de aborrecimento com o Tibet.
Namo Ratna Guru
Senhor Amitabha e Avalokiteshvara,
Sua compaixão abarca todos os seres.
Concedam suas bênçãos para que eu possa ser o seu discípulo
E para que eu possa esvaziar o samsara.
Agora ouçam aqui, rei e súditos tibetanos.
Eu, Padmakara de Uddiyana,
Cheguei no Tibet devido à continuação do karma passado
E realizei a aspiração do rei [Trisong Detsen].
Nesta terra do Tibet, um reino encoberto por densa escuridão,
Fiz o sol do Dharma brilhar
E estabeleci todos os seres tanto na felicidade quanto no bem-estar.
E então o rei do Tibet faleceu.
Agora não devo mais permanecer no Tibet.
Eu e os tibetanos não entramos em acordo!
Eu estou partindo; estou indo para a Índia!
Eu, o rei e ministros tibetanos não entramos em acordo!
Eles não governam o reino de acordo com o Dharma.
Ao invés disso, os ministros controlam o rei do Dharma.
Estou cansado dos reis que se engajam em maus atos.
Eu estou partindo; estou indo para a Índia!
Eu e os monges tibetanos não entramos em acordo!
Eles não mantém a disciplina pura,
Mas sim desfrutam, em segredo, de carne, vinho e mulheres.
Estou cansado de pessoas hipócritas.
Eu estou partindo; estou indo para a Índia!
Eu e os professores tibetanos não entramos em acordo!
Eles não explicam corretamente as palavras do Buddha e os tratados,
Mas sim enganam as pessoas com ensinamentos distorcidos.
Eu estou partindo; estou indo para a Índia!
Eu e os meditadores tibetanos não entramos em acordo!
Eles não misturam o estado de meditação com a pós-meditação,
Mas sim fazem do mero entendimento intelectual a sua experiência e realização.
Estou cansado dos praticantes que se fixam sobre a calma inerte.
Eu estou partindo; estou indo para a Índia!
Eu e os tantrikas tibetanos não entramos em acordo!
Eles não mantém puros os compromissos sagrados.
Ao invés disso, eles deixam tanto o Mahayana quanto o Mantra Secreto se desviarem no xamanismo.
Estou cansado dos violadores de samaya.
Eu estou partindo; estou indo para a Índia!
Eu e os yogis tibetanos não entramos em acordo!
Eles não possuem o significado da Visão e da Meditação em sua prática do Dharma,
Mas sim enganam a si mesmos com chavões orgulhosos.
Estou cansado de pessoas jactantes.
Eu estou partindo; estou indo para a Índia!
Eu e os governantes tibetanos não entram em acordo!
Eles não misturam os afazeres sociais com o Dharma divino,
Mas sim gastam os ensinamentos e o reino com más intenções.
Estou cansado de pessoas de mente ruim com intenções negativas.
Eu estou partindo; estou indo para a Índia!
Eu e os benfeitores tibetanos não entramos em acordo!
Eles não praticam a generosidade livre do prejuízo
Mas sempre criam causas para o renascimento entre os fantasmas famintos.
Estou cansado das pessoas enganadoras e mesquinhas.
Eu estou partindo; estou indo para a Índia!
As mulheres tibetanas e eu não entramos em acordo!
Elas não têm fé e compaixão em seu coração,
Mas sim seguem os charlatões com fé oca.
Estou cansados das mulheres sem fé e luxuriosas.
Eu estou partindo; estou indo para a Índia!
Discípulos tibetanos, permaneçam em paz.
Eu estou partindo; estou indo para a terra dos rakshasas.
Rogo que nós possamos nos encontrar novamente no futuro.
Então todos os discípulos tibetanos se sentiram envergonhados de si mesmos. Com corações doloridos, com seus olhos cheios de lágrimas e atormentados pelo desespero profundo, eles fizeram prostrações completas. Eles colocaram os pés de Padmakara sobre o topo de suas cabeças, agarraram seu robe e rogaram, Ouça, grande mestre! Se você partir para a Índia, não teremos como esclarecer nossas concepções errôneas externas e internas! Anteriormente, quando o rei Trisong Detsen estava vivo, sua bondade era imensa. Agora, por favor continue a cuidar do povo do Tibet com sua compaixão. De todos os modos, por favor fique!
Em resposta ao pedido deles, o Mestre Padma disse: Durante o reino do rei [Trisong Detsen], fiz o Buddhadharma se espalhar e florescer. Vocês, meus seguidores, o rei [atual] e os súditos, devem manter minha tradição exatamente com ela é, como benfeitores e objetos de respeito. Já que estou indo para a Índia, não haverá qualquer um para esclarecer suas concepções errôneas externas e internas. Mas a menos que os rakshasas sejam banidos, eles inundarão sua terra, Lankapuri, e comerão todos os humanos do continente de Jambu. Chegou a hora de eu partir para subjugá-los, então preciso partir.
(Advice
from the lotus born: a collection of Padmasambhava's advice to the
dakini Yeshe Tsogyal and other close disciples. Introdução de
S.E. Tulku Urgyen Rinpoche, tradução de Erik Pema Kunzang e edição
de Marcia Binder Schmidt. Kathmandu: Rangjung Yeshe, 1994. Pág.
149-151.)
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