Khatag, a Echarpe da Felicidade
Conta-se
que o rei do Tibet [Trisong Deutsen], que não era buddhista, andava
muito ressentido com o respeito e a veneração que o povo do Tibet
mostrava para com o grande mestre indiano Padmasambhava. Parecia-lhe,
na verdade, que reverenciavam mais a Padmasambhava do que a ele
mesmo. Assim, o rei decidiu assegurar-se que, quando o grande mestre
o visitasse, todos os chefes do país veriam aquele a quem tanto
honravam render homenagem a seu rei.
No dia da visita de Padmasambhava, todos os cortesãos foram congregados para vê-lo render homenagem ao rei; este, com grande ansiedade, também esperava para conhecer o grande mestre. O altivo rei mal pôde ocultar o seu grande prazer quando Padmasambhava levantou os braços como que para prostrar-se diante do trono real; mas, ao invés disso, das mãos de Padmasambhava saíram chamas que alcançaram as roupas do rei, queimando-as em segundos. Enquanto os cortesãos tratavam de apagar as chamas a golpes, o rei, sufocado pela fumaça que subia de sua echarpe cerimonial, retirou-a dos ombros. Comprovando o grande poder do mestre o rei lançou-se aos pés de Padmasambhava em submissão, e lhe ofereceu a echarpe em sinal de humildade. Padmasambhava aceitou a echarpe, mas logo a devolveu ao rei, colocando-a ao redor do seu pescoço, como um signo de bênção e da vitória da autoridade sacerdotal sobre o poder temporal.
E assim, diz-se no Tibet, terra de poucas flores, que Padmasambhava estabeleceu o oferecimento de khatags de felicidade, como demonstração de respeito.
Khatag é uma tira comprida de tecido, geralmente branca, uma espécie de longa echarpe, que pode ser confeccionada com diferentes tipos de tecido, desde a seda até gaze atesada com pó de arroz. Literalmente significa "tecido que une" e simboliza o laço que se estabelece entre aquele que a oferece e o que a recebe.
(Jayang
Rinpoche. Contos populares do Tibete: os mais belos diálogos da
literatura budista.
Traduzido por Lenis. E. Gemignani de Almeida. São Paulo: Landy, 2000. Pág. 45-46.)
Traduzido por Lenis. E. Gemignani de Almeida. São Paulo: Landy, 2000. Pág. 45-46.)
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