quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Canções aos Vinte e Cinco Discípulos

Canções aos Vinte e Cinco Discípulos


O rei [Trisong Detsen] e os vinte e cinco discípulos então pediram ao precioso mestre de Uddiyana: Por favor conceda sobre nós uma instrução profunda que toca o ponto essencial, que inclua tudo e que seja simples de praticar.

Padmasambhava cantou em resposta:
Maravilhoso!
Rei, príncipes e o resto de vocês discípulos,
O verdadeiro significado não está dentro do domínio de todos.
Quando ouvido por um recipiente indigno,
Ele se torna a causa de difamação, de mal-entendimento e de samayas danificados.

Eu dei a vocês profecias importantes sobre o futuro,
Mas os governantes ruis do Tibet
Não confiam, por mais que ouçam.
Espalhando a falsidade, eles permitem a si mesmos a fala inútil.

Ainda assim, explicarei brevemente
O que vocês, cheios de devoção, me pediram.
Agora não é a hora de propagá-la,
Mas [darei uma instrução] para cada um de vocês, para praticarem corretamente por vocês mesmos.
Já que este ensinamento será escondido como um tesouro-terma para o benefício do futuro,
Tomem o juramento do sigilo!

Instruindo-os para aderir a este comando de sigilo, ele primeiro disse ao rei:
[1] Sua majestade, ouça aqui, tome a posição de pernas cruzadas,
Mantenha seu corpo ereto sobre o assento e medite!
Mantenha sua atenção sem pensamento e não-confinada por construções mentais.
Como o seu foco transcende todos os tipos de objetos,
Não-fixada sobre qualquer marca de solidez,
Permaneça quieto, tranqüilo e desperto!
Quando você permanecer assim, os sinais de progresso aparecerão naturalmente
Como a claridade da consciência que nem surge nem cessa
E como a consciência completamente livre dos conceitos errôneos.
Este é o estado desperto encontrado em si mesmo,
Não procurado em qualquer outro lugar mas auto-existente — que maravilhoso!

[2] Ouça aqui, devotada Tsogyal de Kharchen!
Já que a sua mente não tem identidade real a ser mostrada,
Em um estado natural, não-fabricado e espontaneamente presente,
Permaneça sem distração dentro da esfera de não-meditação!
Permanecendo assim, a liberação ocorre espontaneamente.
Isto em si mesmo é o estado desperto!

[3] Ouça aqui, Palgyi Senge, meu filho eminente e nobre!
Todos os fenômenos do samsara e do nirvana são a sua própria mente
E não aparecem separados desta mente —
Vazios de uma auto-natureza, além do pensamento, da palavra e da descrição.
Não aceite o agradável ou rejeite o horroroso, não afirme ou negue, não faça preferências,
Mas sim permaneça vividamente desperto no estado de naturalidade não-fabricada!
Permanecendo assim, o sinal de progresso é que o seu corpo, fala e mente
Sentem-se livre e fáceis, além dos confins do prazer e da dor.
Esse é o momento de entender o estado desperto!

[4] Ouça aqui, Vairochana, ser digno!
Tudo o que aparece e existe, o samsara e o nirvana, surge de sua própria mente —
Um mente que não pode ser agarrada, sem centro ou borda.
No estado natural da vasta igualdade, intrínseco e não-fabricado,
Permaneça sem distração no grande não-esforço!
Qualquer pensamento que você pense surge como o espaço do despertar —
O Desperto não é outro senão isto.
Quando o despertar auto-cognitivo é completamente efetivado,
É a isso que é dado o nome "buddha"!

[5] Ouça aqui, Yudra Nyingpo de Gyalmo!
Sua mente é não não-surgida, nenhuma coisa é mais vista.
Sem pensamentos, sem formar conceitos, não siga seu pensamento!
Então não afirme ou negue, mas sim permaneça livre em você mesmo!
Neste estado, o fluxo de pensamento é cortado
E a sabedoria se desdobra, desenhando a linha entre o samsara e o nirvana!

[6] Ouça aqui, Namkhai Nyingpo, mendicante de Nub!
Sua mente é a simplicidade livre de ego e de um eu,
Então permaneça em seu estado auto-ocorrente, auto-acalmante, livre de artifício!
Nessa momento, o êxtase surge do interior,
Os sinais de progresso ocorre espontaneamente, isto é em si mesmo o estado desperto!

[7] Ouça aqui, Jnana Kumara, ouça sem distração a esta instrução!
Primeiro, sua mente não foi criada através de causas
E no fim não será destruída por condições,
Então permaneça sem esforço no estado indescritível e não-fabricado!
Nesse momento, a fruição é descoberta em si mesma sem procurá-la.
Separado disto você não encontrará outro Desperto!

[8] Ouça aqui, Gyalwa Choyang de Nganlam!
A mente desperta da iluminação não é criada através da meditação,
Então, livre do pensamento, sem projetar ou dissolver o pensamento,
Permaneça com os sentidos bem abertos, deixando seu pensamento se acalmar em si mesmo!
Dentro deste estado, seu pensamento se dissolve espontaneamente
E as sabedorias ocorrem por si mesmas sem serem procuradas.
Isto é em si mesmo o descoberto do estado desperto!

[9] Ouça aqui, Dorje Dudjom de Nanam!
Isso que leva o nome de "mente desperta da iluminação"
É intrínseca e primordialmente auto-existente e sem centro ou borda.
Não a corrija, mas nesse estado que é auto-cognitivo e naturalmente sereno,
Não mude, não altere, mas sim permaneça, livre em naturalidade!
Permanecendo assim, sua mente livre do tumulto
É em si mesma o Desperto!

[10] Ouça aqui, Yeshe Yang de Ba, e treine nesta instrução!
Sua mente é inabalável quando não-fixada sobre sujeito e objeto.
Não-distraída pelo esforço, pela esperança e medo, pela proteção e dissolução de pensamentos;
Não os corrija, mas sim permaneça em seu estado natural.
Não se mover disso é em si mesmo o Desperto!

[11] Ouça aqui, Palgyi Yeshe de Sogpo!
O estado desperto da mente é não-fabricado,
Não-procurado e auto-existente.
Sem o esforço de manter um sujeito e objeto,
Permaneça no estado não-fabricado da cognição natural!
Permanecendo deste modo, o fluxo da agitação é cortado e cessa;
Reconheça esse momento como sendo o Desperto!

[12] Ouça aqui, Nanam Yeshe, jovem mendicante de Shang!
Deixe sua atenção livre da ação dualista, não afirme ou negue,
Mas permaneça no não-esforço não-fabricado, não aceite ou rejeite.
O estado desperto é permanecer nisso sem distração!

[13] Ouça aqui, Palgyi Wangchug de Kharchen!
Deixe sua mente na não-meditação, não fabrique uma atitude,
Mas, sem construir, permaneça na cognição natural auto-existente!
Permanecendo nesse estado, sem jogar fora o samsara,
A dissolução natural das falhas do samsara é a sabedoria do Desperto!

[14] Ouça aqui, Denma Tsemang, ser eminente!
Sua mente é vazia de sujeito e objeto e não é fabricada,
Então, livre do esforço e do artifício, não crie qualquer coisa através da meditação
Mas permaneça sem distração na cognição natural auto-existente!
Permanecendo nesse estado, a cognição natural é liberada.
Você nunca encontrará o Desperto se abandonar isto!

[15] Ouça aqui, Kawa Paltseg de Chinpu!
Quando deixar ir o sujeito e o objeto, a mente não é uma coisa a se mostrar.
Do mesmo modo, não deve ser fabricada ou corrigida.
Permaneça no estado de eqüanimidade, não se desviando na fixação sobre a solidez.
Permanecer nisso sem distração é em si mesmo o estado desperto!

[16] Ouça aqui, Palgyi Senge de Shubu!
O estado desperto da mente é livre de todos as pretensões de ser mais ou menos.
Não-fabricado e naturalmente livre de sujeito e objeto que aceita ou rejeita um objeto,
Não permaneça sobre qualquer coisa, seja completamente não-obstruído.
Permanecer neste estado é o Desperto!

[17] Ouça aqui, Gyalwe Lodrö, mendicante de Dre!
Sua mente não pode ser pensada nem observada.
Ela está além do ser e não-ser, da permanência e aniquilação,
Permaneça livre da meditação sobre o meditador e o objeto!
Quando você permanece nesse estado sem distração,
Isso é o que é chamado o dharmakaya do Desperto!

[18] Ouça aqui, Lokyi Chungpa, a esta instrução!
Deixe sua atenção livre de conhecedor e conhecido,
Não se fixe, mas relaxe livremente sem desejar
E permaneça no estado da cognição vazia de auto-natureza.
Permanecer nisso sem oscilar é em si mesmo o estado desperto!

[19] Ouça a isto, Drenpa Namkha!
Sua mente, que percebe porém é livre de substância,
Conhece sem pensamento, é cônscia porém indestrutível.
Livre dos movimentos do pensamento conceitual,
Permaneça nesse estado, desperto e completamente aberto.
Permanecer nesta natureza é em si mesmo o estado desperto!

[20] Ouça aqui, Palgyi Wangchug de Odren!
A mente desperta é uma vacuidade percebedora, vacuidade porém cognição luminosa.
Permaneça em seu estado auto-existente, não a altere ou corrija.
Permanecer sem se mover disso é em si mesmo o Desperto!

[21] Ouça a isto, Rinchen Chog!
A identidade de sua atenção, que não é constituída por qualquer coisa, não deve ser mantida
Nem deve ser criada ou negligenciada na meditação.
Não corrija ou altere sua frescura auto-existente,
Mas sim permaneça no estado original que é espontaneamente presente!
Dentro deste estado, não deixe sua mente oscilar,
Já que você nunca encontrará uma fruição separa disto!

[22] Ouça aqui, Sangye Yeshe, mendicante de Nub!
A mente desperta é vazia enquanto percebe
E do mesmo modo percebe enquanto é vazia.
Uma unidade inconcebível da vacuidade percebedora e desperta —
Permaneça na naturalidade, não distraído desta esfera.
Permanecer nisto sem se mover é o Desperto!

[23] Ouça aqui, Palgyi Dorje Wangchug de Lhalung!
A natureza de sua mente não é concreta e não tem atributos,
Não procure fabricá-la ou melhorá-la, mas permaneça sem mudar ou esquecer.
Permanecer assim é em si mesmo o Desperto!

[24] Ouça aqui, Könchog Jungne de Langdro!
Sua mente é não-concreta e primordialmente pura,
Naturalmente vazia e não-fabricada,
Então permaneça no estado livre de meditar e de objeto de meditação.
Através disto, você atinge a fruição do estado búddhico!

[25] Ouça aqui, Gyalwa Jangchub de Lasum!
Sua mente não surge ou cessa, nem tem atributos de solidez.
Vazia por natureza, sua cognição é não-obstruída.
Permanecer sem se mover disto é em si mesmo o Desperto!

Todos vocês, apliquem estas instruções em sua experiência!
Você pode comparar os sutras e tantras do Buddha e seus comentários,
Com palavras em números que transcendem os limites do espaço,
Mas este significado conciso está incluído nestes poucos pontos vitais.
Então os pratique e os esconda como tesouros de acordo com seu juramento!

Assim, Padmasambhava disse e por simplesmente conceber a verdadeira instrução essencial sobre eles, todos foram liberados e atingiram a realização.

(Advice from the lotus-born: a collection of Padmasambhava's
advice to the dakini Yeshe Tsogyal and other close disciples.
Introdução de S.E. Tulku Urgyen Rinpoche, traduzido do tibetano por Erik Pema Kunsang,
editado por Marcia Binder Schmidt. Kathmandu: Rangjung Yeshe Publications, 1994. Pág. 61-67.)

Conselho Sobre a Não-contradição dos Veículos

Conselho Sobre a Não-contradição dos Veículos


O rei Trisong Detsen ofereceu uma mandala de ouro ao grande mestre Padmakara [Padmasambhava] e disse: Que maravilhoso! Grande mestre, peço que você ensine o método de prática que mostra que não há conflito entre os veículos inferiores e superiores.

O mestre respondeu: Emaho, grande rei, é raro nascer repetidamente como um rei em um perfeito corpo humano dotado com mérito, então é importante governar o reino do Dharma. Você pode manter um governo rigoroso quanto às atividades mundanas, mas isso trará mal a todos os seres, então é importante treinar na bodhichitta.

Você pode estimar este corpo ilusório com grande afeto, mas a hora da morte é incerta. Seus cabelos brancos e rugas são presságios da morte, então é importante sentir exaustão e se esforçar nos remédios, a prática do Dharma.

A causa para entrar no caminho da liberação é manter um sentido de vergonha e modéstia, evitando os erros, então é importante observar os votos e preceitos sem prejudicá-los.

Os seres sencientes são o objeto de compaixão, então esteja livre do prejuízo diante de novas aquisições. É importante trazer ao Dharma e sustentar todo o seu séqüito, súditos e parentes.

Nunca se pode acumular coisas suficientes tais como comida e riqueza, então é importante usá-las pelo bem do Dharma sem deixá-las ser gastas como alimento para inimigos e fantasmas. Sem fé e devoção, não se recebe a essência das instruções orais, então é importante honrar e servir os mestres de linhagem com fé, devoção e confiança.

É o lama que nos mostra a sabedoria do estado búddhico presente dentro de si, então é importante pedir as instruções orais de um mestre dotado com a linhagem do ouvir e colocá-las em prática.

Você não recebe as bênçãos quando deixa seu corpo, fala e mente permanecerem ordinários, então é importante concentrar o corpo, fala e mente como sendo a divindade, o mantra e o estado inato além dos conceitos.

Se você exercer atos ordinários, seu corpo, fala e mente correrão de maneira selvagem na existência mundana, então é importante abandonar habilmente a má companhia e se manter em retiros na montanha.

Seus pais, irmãos, filhos e consortes são todos como viajantes passageiros. Vocês não permanecerão juntos, então é importante abandonar o apego e evitar a companhia com o sexo oposto, a raiz do samsara.

Todos os atingimentos, honra e fama desta vida são a causa da distração e dos obstáculos, então é importante abandonar a preocupação com esta vida e renunciar completamente às oito preocupações mundanas.

Todas as suas experiências presentes, os múltiplos sentimentos de prazer e dor, são superficiais e irreais, então é importante colocar sempre a atenção e conscientização em guarda.

A natureza de sua mente, que não pode ser apontada, é em si mesma o despertar inato, auto-existente e original; é importante olhar para si mesmo e reconhecer sua natureza.

Quando [tentar] agarrar a mente, ela não permanecerá, então é importante relaxar o corpo e a mente desde o interior, enquanto deixa a atenção em seu estado natural.

Toda falsificação e fabricação são a delusão dupla de seus pensamentos, então é importante relaxar a atividade do pensamento excessivo enquanto o deixa ser liberado em seu estado natural.

Todo esforço e tentativas de realização são amarrados pela corda da ambição, então é importante permitir [que seu pensamento] seja clareado em si mesmo, livre do esforço e ambição.

Você não atingirá o estado búddhico enquanto estiver nutrindo esperança ou medo, então é importante decidir que a natureza vazia e não-surgida da mente está além de um estado búddhico a ser atingido ou de um samsara onde se cair.

Emaho, ouça rei! Se praticar assim, você não terá qualquer conflito entre os veículos maior ou inferior, entre os veículos do Mantra ou filosóficos, ou entre os veículos causal e resultante, então, grande rei, mantenha isso em mente.

No fim desta vida, grande rei, você cortará o fluxo do renascimento e levará o samsara a um fim. O despertar original do estado búddhico alvorecerá dentro de você e realizará incessantemente o bem dos seres. Esconda estes ensinamentos como tesouros preciosos.

Ouvindo este conselho sobre a união do desenvolvimento e completude, o rei ficou arrebatado e fez numerosas prostrações e circumbulações, e espalhou pó de ouro.

Isto foi a instrução oral sobre o importante conselho que não contradiz qualquer um dos veículos gerais.

Selo do tesouro.

Selo do encobrimento.

Selo da incumbência.


(Advice from the lotus born: a collection of Padmasambhava's advice to the dakini Yeshe Tsogyal and other close disciples. Introdução de S.E. Tulku Urgyen Rinpoche, tradução de Erik Pema Kunzang e edição de Marcia Binder Schmidt. Kathmandu: Rangjung Yeshe, 1994. Pág. 41-43.)

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Conselho Sobre Como Praticar o Dharma Corretamente

Conselho Sobre Como Praticar o Dharma Corretamente


Padmakara, o mestre de Uddiyana, residiu em Samye depois do ser convidado [a visitar] o Tibet pelo rei [Trisong Detsen]. Ele deu numerosos ensinamentos ao rei, aos seus ministros e a outras pessoas devotadas na parte leste do templo central. Já que elas não entenderam corretamente, ele deu este conselho repetidamente.

O mestre Padmakara disse:
Não importa quanto eu ensine, o povo do Tibet não entende; ao invés [de seguir os ensinamentos], engaja-se em nada mais que ações pervertidas. Se você quiser praticar o Dharma desde o núcleo de seu coração, faça isso:

Ser um leigo buddhista não apenas significa observar os quatro preceitos raiz; significa jogar fora os erros não-virtuosos. Ser um noviço não simplesmente significa assumir um exterior puro; significa praticar a virtude corretamente. Ser um monge não apenas significa controlar o corpo, a fala e a mente nas atividades diárias e ser proibido de fazer todos os tipos de coisas; significa trazer todas as raízes ao caminho da grande iluminação.

Ser virtuoso não apenas significa vestir mantos amarelos; significa temer o amadurecimento do karma. Ser um amigo espiritual não apenas significa assumir uma conduta dignificada; significa ser o glorioso protetor de todos. Ser um yogi não apenas significa se comportar brutalmente; significa misturar a própria mente com a natureza do dharmata.

Ser um mantrika não apenas significa murmurar encantos; significa atingir rapidamente a iluminação através do caminho da união dos meios e conhecimentos. Ser um meditador não apenas significa viver em uma caverna; significa treinar no verdadeiro significado [do estado natural]. Ser um eremita não apenas significa viver na floresta profunda; significa que a própria mente está livre das construções dualistas.

Ser instruído não apenas significa manter as oito preocupações mundanas; significa distinguir certo e errado. Ser um bodhisattva não significa reter um auto-interesse interior; significa esforçar-se nos meios para liberar todos os seres sencientes do samsara.

Ter fé não significa choramingar; significa entrar no caminho correto sem medo da morte e do renascimento. Ser diligente não significa se engajar em várias atividades sem descanso; significa esforçar-se nos meios para deixar a existência samsárica para trás. Ser generoso não simplesmente significa dar com distorção e parcialidade; significa estar profundamente livre do apego a qualquer coisa que seja.

Instrução oral não significa ter muitos livros escritos; significa algumas palavras que golpeiam o ponto vital em sua mente. Visão não simplesmente significa opinião filosófica; significa estar livre das limitações das construções mentais. Meditação não significa se fixar sobre algo com pensamento; significa que sua mente é estável na cognição natural, livre da fixação.

Ação espontânea não apenas significa agir com louco abandono; significa estar livre da fixação sobre as percepções deludidas como sendo reais. O conhecimento discriminativo [prajna] não significa o intelecto aguçado do pensamento confundido; significa entender que todos os fenômenos são não-surgidos e vazios de construções mentais.

Aprendizado não apenas significa receber ensinamentos através dos ouvidos; significa cortar completamente os conceitos errôneos e ter realização além da mente conceitual. Refletir não apenas significa seguir o pensamento conceitual e formar suposições; significa cortar completamente seu apego deludido. Fruição não apenas significa os rupakayas convidados de Akanishtha; significa reconhecer a natureza da mente e atingir estabilidade nela.

Não confunda as palavras com o significado dos ensinamentos. Misture a prática com o seu próprio ser e atinja a liberação do samsara bem agora.


(Advice from the lotus born: a collection of Padmasambhava's advice to the dakini Yeshe Tsogyal and other close disciples. Introdução de S.E. Tulku Urgyen Rinpoche, tradução de Erik Pema Kunzang e edição de Marcia Binder Schmidt. Kathmandu: Rangjung Yeshe, 1994. Pág. 99-100.)

A Aspiração da Mandala de Vajradhatu

A Aspiração da Mandala de Vajradhatu


Namo Guru

No décimo dia do mês do macaco no ano do macaco, o mestre de Uddiyana [Padmasambhava] proferiu esta aspiração na ocasião da revelação da mandala de Vajradhatu na câmara central coberta de turquesa em Samye. Desde então, o rei [Trisong Detsen] e os discípulos fizeram dela a sua prática diária. Todas as gerações futuras devem adotá-la, com todo coração, como sua prática também.

Vitoriosos e seus filhos nas dez direções e quatro tempos,
Assembléias de lamas, yidams, dakinis e protetores do Dharma,
Por favor venham aqui todos vocês, numerosos como os grãos de poeira no mundo,
E se sentem sobre assentos de lótus e lua no céu no diante de mim.

Com corpo, fala e mente respeitosos, eu me curvo
E apresento a vocês oferendas externas, internas, secretas e da talidade.
Na presença de vocês, sugatas, os objetos supremos de veneração,
Sinto vergonha por minhas más ações passadas
E arrependidamente confesso minhas não-virtudes presentes.
Vou refreá-las e abandona-las no futuro.
Regozijo em todas as acumulações de mérito e virtude
E peço a vocês, vitoriosos, que não passem para o nirvana,
Mas girem a roda do Dharma do Tripitaka e dos ensinamentos insuperáveis.
Todas as acumulações de virtudes eu dedico às mentes dos seres
Para que possam alcançar a liberação insuperável.

Buddhas e seus filhos, por favor me ouçam!
Possa esta excelente aspiração que aqui comecei
Ser expressa de acordo com o vitorioso Samantabhadra e seus filhos
E com a sabedoria do nobre Manjushri.

Possam todos os mestres preciosos, o esplendor do Dharma,
Alcançar todos os lugares como o céu.
Possam eles brilhar sobre todos como o sol e a lua
E possam suas vidas ser firmes como montanhas.

Possa a preciosa Sangha, o fundamento do Dharma,
Estar em harmonia, manter votos puros e ser rica nos três treinamentos.
Possam os praticantes do Mantrayana, a essência do Dharma,
Manter seu samaya e aperfeiçoar os estágios de desenvolvimento e completude.

Possa o soberano que sustenta o Dharma, o patrono do Dharma,
Expandir seu domínio e ajudar os ensinamentos buddhistas.
Possa a nobres e os chefes, os servos do Dharma,
Aumentar sua inteligência e ser dotados com recursos.

Possam todos os ricos chefes de família, os patrocinadores do Dharma,
Ter riqueza e alegria, e ser livres do mal.
Possam todos os países com fé no Dharma
Ter paz e felicidade e ser livres dos obstáculos.

Possa eu, um yogi no caminho,
Ter samaya perfeito e a realização de meus desejos.
Possa qualquer um conectado comigo através do karma bom ou ruim,
Tanto agora quanto definitivamente, ser estimado pelos vitoriosos.
Possam todos os seres entrar no portão do veículo insuperável
E atingir o vasto reino de Samantabhadra.

Esforce-se nesta aspiração durante as seis sessões.
Samaya, selado.

O grande tertön Chogyur Dechen Lingpa, emanação do príncipe Murub, revelou este terma entre uma multidão de pessoas. Ele tirou-o debaixo da parte superior da Montanha da Rocha de Jóias Empilhadas [Rinchen Tzeg], situada no declive direito do lugar mais sagrado, o Penhasco Celestial do Grande Leão [Sengchen Namtrag]. O papel de seda, feito do manto de Vairochana com letras tibetanas shurma escritas por [Yeshe] Tsogyal, foi então imediata e acuradamente transcrito por Pema Garwang [Jamgön Kongtrül] Lodrö Thaye. Possa a virtuosa bondade aumentar.


(Advice from the lotus born: a collection of Padmasambhava's advice to the dakini Yeshe Tsogyal and other close disciples. Introdução de S.E. Tulku Urgyen Rinpoche, tradução de Erik Pema Kunzang e edição de Marcia Binder Schmidt. Kathmandu: Rangjung Yeshe, 1994. Pág. 148-150.)

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

O Testamento do Cravo de Jóias

[Estes conselhos foram ditos por Padmasambhava para Yeshe Tsogyal]

Eu, o mestre Nascido do Lótus de Uddiyana,
Treinei no Dharma pelo meu bem-estar e pelo dos outros.
Ao leste de Vajrasana,
Eu estudei e me tornei instruído nos ensinamentos do Sutra.

Ao sul, ao oeste e ao norte,
Eu estudei as coleções do Vinaya, do Abhidharma
E os ensinamentos da Paramita.

Em Bhasudhara eu estudei Kriya.
Na terra de Uddiyana eu estudei Yoga.
No país de Zahor eu estudei as duas seções do Tantra.

Na terra de Ja eu estudei Kilaya.
No país de Singha eu estudei Hayagriva.
Na terra de Marutse eu estudei Mamo.
No Nepal eu estudei Yamantaka.
Em Vajrasana eu estudei Amrita.

As quatro seções do Tantra Pai e do Tantra Mãe,
Incluindo o Guhyasamaja,
Eu estudei na terra de Jala até alcançar erudição.
A Grande Perfeição eu aprendi de minha mente naturalmente desperta.
Eu realizei que todos os fenômenos são como um sonho, como mágica.

Na terra do Tibet eu realizei imensas ações pelo bem-estar dos seres.
Na era de degeneração eu beneficiarei os seres.
Para tanto eu escondi inumeráveis tesouros terma
Que irão encontrar as pessoas destinadas.

Todos vocês, afortunados que se conectam com estes termas,
Obedeçam o comando do Nascido do Lótus!

Assim ele disse.

Emaho! No fim desta era, meus tesouros terma florescerão nesta terra nevada do Tibet. Ouçam aqui, todos vocês que seguirão meus conselhos nesse tempo!

É difícil realizar a natureza da Ati Yoga da Grande Perfeição, então a treine! Esta natureza é o estado desperto da mente. Apesar de o seu corpo permanecer humano, sua mente chegará ao estágio do estado búddhico.

Não importa quão profundo, quão vasto ou quão abarcadores os ensinamentos da Grande Perfeição possam ser, todos eles estão incluídos dentro disto: não medite ou fabrique nem mesmo um átomo e não fique distraído nem mesmo por um instante.

Há o perigo de que as pessoas que falham em compreender isto usem este chavão: "Está tudo bem em não meditar!" Suas mentes permanecem presas pelas distrações do negócio samsárico, apesar de que quando realizarem a natureza da não-meditação, elas devam ser liberadas em igualdade do samsara e nirvana. Quando a realização ocorrer, você definitivamente deve estar livre do samsara, de modo que suas emoções perturbadoras naturalmente se acalmem e se tornem o despertar original. De que serve a realização que falha em reduzir suas emoções negativas?

Porém, algumas pessoas se entregam aos cinco venenos, evitando a meditação. Elas não realizaram a verdadeira natureza e certamente irão para o inferno.

Não professe uma visão que ainda não realizou! Já que a visão é vazia de ver, a essência da mente é uma expansão de grande vacuidade. Já que a meditação é sem meditar, deixe sua experiência individual livre da fixação. Já que a fruição é sem abandonar ou atingir, ela é o dharmakaya de grande êxtase. Estas quatro frases são palavras de meu coração. Contradiga-as e você falhará em descobrir a natureza do Ati Yoga.

No fim da era futura, haverá muitos praticantes pervertidos que tratarão o Dharma como mercadoria. Nessa época, todos aqueles que obedecem minhas palavras, não abandonem as dez atividades espirituais.

Apesar de a sua realização ser igual à dos buddhas, faça oferendas às Três Jóias. Apesar de você ter obtido maestria sobre sua mente, direcione suas metas interiores para o Dharma. Apesar de a natureza da Grande Perfeição ser suprema, não deprecie os outros ensinamentos.

Apesar de você ter realizado que os buddhas e os seres sencientes são iguais, abrace todos os seres com compaixão. Apesar de os caminhos e estágios estarem além do treinamento e da jornada, não deixe de purificar seus obscurecimentos através das atividades do Dharma. Apesar de as acumulações estarem além do juntar, não corte as raízes da virtude condicionada.

Apesar de a sua mente estar além do nascimento e da morte, este corpo ilusório morre, então pratique enquanto se lembra da morte. Apesar de você experienciar o dharmata livre do pensamento, mantenha a atitude da bodhichitta. Apesar de você ter atingido a fruição do dharmakaya, mantenha a companhia com sua divindade meditacional.

Apesar de o dharmakaya não estar em qualquer outro lugar, procure o verdadeiro significado. Apesar de o estado búddhico não estar em qualquer outro lugar, dedique qualquer virtude que criar à iluminação insuperável. Apesar de tudo o que é experienciado ser o buddha original, não deixe sua mente vaguear no samsara.

Apesar de a essência de sua mente ser o buddha, sempre venere o yidam e o lama. Apesar de você ter realizado a natureza da Grande Perfeição, não abandone sua divindade meditacional. Aqueles que, ao invés de fazer isto, falam tolamente com palavras orgulhosas, apenas prejudicam as Três Jóias e não encontrarão nem mesmo um instante de felicidade.

O mestre disse: Os seres humanos não pensam sobre a morte. A vida de um homem é como um monte de palha ou uma pluma sobre uma passagem de montanha. O demônio Senhor da Morte vem subitamente, como uma avalanche ou uma tempestade. As emoções perturbadoras são como a palha pegando fogo. O tempo de sua vida diminui como as sombras ao sol nascente.

Todos os seres sencientes dos três reinos emaranham-se na cobra negra auto-criada da raiva. Eles se cortam com os chifres do boi vermelho auto-criado do desejo. Eles se obscurecem com a densa escuridão auto-criada da estagnação. Eles se acorrentam no penhasco auto-criado da vaidade. Eles se destroçam com o chacal auto-criado da inveja. As pessoas não percebem que falharam em escapar das cinco perigosas máculas das emoções negativas. Elas fazem qualquer coisa para experienciar os prazeres samsáricos desta vida apenas.

Esta vida é cruzada em um breve momento, mas o samsara é infinito. O que você vai fazer na próxima vida? E o tempo desta vida também não é garantido: a hora da morte é incerta e, como um condenado levado à prancha, a cada passo você está mais próximo da morte.

Todos os seres são impermanentes e morrem. Você não ouviu falar das pessoas que morreram no passado? Você não viu qualquer um de seus parentes morrer? Você não percebeu que está ficando velho? E ainda assim, ao invés de praticar o Dharma, você se esquece da aflição passada. Ao invés de temer a miséria futura, você ignora o sofrimento dos reinos inferiores.

Perseguido pelas circunstâncias temporárias, amarrado pela corda da fixação dualista, exausto pelo rio do desejo, preso na teia da existência samsárica, mantido prisioneiro pelas apertadas algemas do amadurecimento kármico — mesmo quando as notícias do Dharma alcançam-no, você ainda se apega às diversões e permanece descuidado. A morte não acontece para pessoas como você? Tenho pena de todos os seres sencientes que pensam deste modo!

O mestre disse: Quando você mantém a mente na miséria do morrer, torna-se claro que todas as atividades são causas de sofrimento; então, abandone-as. Corte todos os nós, até mesmo o menor, e medite em solidão sobre o remédio da vacuidade. Nada mais irá ajudá-lo na hora da morte, então pratique o Dharma, já que ele é o seu melhor companheiro.

O seu mestre e as Três Jóias são a melhor escolta, então o quanto antes tome refúgio. Praticar o Dharma é o que mais ajuda o seu estado mental. Lembre-se do que você ouviu, já que o Dharma é o que é mais digno de confiança.

Não importa qual ensinamento você pratica, abandone o sentimento de sono, letargia e preguiça. Ao invés disso, vista a armadura da diligência. Não importa qual ensinamento você compreendeu, não se separe do seu significado.

Padmasambhava disse: faça assim se você quer praticar o Dharma! Mantenha em mente as instruções orais do seu lama. Não conceitualize suas experiências, pois isto o faz ficar apegado ou raivoso. Dia e noite, olhe para sua mente. Se o fluxo de sua mente contiver qualquer não-virtude, renuncie a ela a partir do núcleo de seu coração e exerça a virtude.

Acima de tudo, quando você vir outras pessoas cometendo o mal, sinta compaixão por elas. É inteiramente possível que você sinta apego ou aversão por certos objetos dos sentidos. Abandone isso. Quando você sentir apego por algo atrativo ou aversão por algo repulsivo, compreenda isso como uma delusão de sua mente, nada mais que uma ilusão mágica.

Quando vocês ouvir palavras agradáveis ou desagradáveis, compreenda-as com um ressoar vazio, como um eco. Quando você encontrar o infortúnio e miséria severos, compreenda-os como uma ocorrência temporária, uma experiência deludida. Reconheça que a natureza inata nunca está separada de você.

Obter um corpo humano é extremamente difícil, então é tolice ignorar o Dharma uma vez que ele é encontrado. Apenas o Dharma pode ajudá-lo; todo o resto é engano mundano.

Novamente o mestre disse: Os seres com karma inferior almejam a grandeza e vaidade deste mundo, e agem sem qualquer pensamento sobre o amadurecimento kármico. A miséria futura durará muito mais que a presente, então sinta amor e compaixão maternais pelos seres dos três reinos. Mantenha companhia constante com a mente desperta da bodhichitta. Abandone as dez não-virtudes e adote as dez virtudes.

Não considere qualquer ser senciente como inimigo: fazer isso é apenas sua delusão da mente. Não procure comida e bebida através das mentiras e do engano. Apesar de a sua barriga estar cheia nesta vida, ela estará pesada na próxima.

Não se envolva com negócios e fazer lucros; em geral, é uma distração tanto para você quanto para os outros. Não dê importância para a riqueza porque ela é o inimigo da meditação e da prática do Dharma.

Ficar apenas na comida é uma causa de distração; mantenha suas provisões de meditação simplesmente suficientes para sustentá-lo. Não viva em vilas ou áreas que promovam o apego e a aversão. Quando seu corpo estiver em exclusão, sua mente estará também. Abandone a conversa fiada e fale menos. Se vocês ferir os sentimentos dos outros, ambos criarão karma negativo.

Em geral, todos os seres sencientes sem exceção foram seus pais, então não se permita sentir apegado ou hostil. Mantenha um estado mental pacífico. Abandone a raiva e as palavras duras; ao invés disso, fale com um rosto sorridente.

A bondade dos seus pais não pode ser retribuída nem mesmo se você sacrificar sua vida, então seja respeitoso em pensamento, palavra e ação. Tanto a virtude quanto o mal vêm dos objetos e companheiros percebidos, então não mantenha companhia com aqueles que fazem o mal. Não permaneça em um lugar onde as pessoas são hostis diante de você e que aumentam a raiva e o desejo. Se você o fizer, isso apenas aumentará as emoções perturbadoras em você e nos outros.

Permaneça onde seu estado mental fique em tranqüilidade e a sua prática de Dharma progredirá automaticamente. Permanecer em lugares de extremo apego e aversão é apenas uma distração. Permaneça onde sua prática de Dharma se desenvolve.

Se você se tornar vaidoso, suas virtudes diminuirão, então deixe de ser arrogante e orgulhoso. Se você se tornar desapontado e sem coração, console-se e seja o seu próprio conselheiro. Reembarque sobre o caminho.

O mestre disse: Se você quiser genuinamente praticar o Dharma, faça o que é virtuoso, até mesmo a ação mais diminuta. Renuncie ao que é mal, até mesmo a menor ação. O maior oceano é feito de gotas d'água; até mesmo o monte Sumeru e os quatro continentes são feitos de pequenos átomos.

Não importa se o seu ato de generosidade é tão pequeno quanto uma única semente de gergelim; se você der com compaixão e bodhichitta, atingirá um mérito cêntuplo. Se você der sem a intenção da bodhichitta, seu mérito não aumentará mesmo se der cavalos e gado.

Não se entregue à lisonja nas amizades de meio coração. Permaneça honesto em pensamento e ação. A primeira prática do Dharma é manter a honestidade em pensamento e ação. O fundamento da prática do Dharma descansa sobre o samaya puro, a compaixão e a bodhichitta. Os samayas do mantra secreto, os preceitos do bodhisattva e as regras dos shravakas estão todos incluídos dentro disto.

O mestre disse: Use todos os seus suprimentos de comida e riqueza com atos virtuosos. Algumas pessoas dizem, "Precisa-se de riqueza na hora da morte." Mas quando você for golpeado por uma doença fatal, não poderá diminuir sua dor com o dinheiro, não importa quantos ajudantes você tenha, e sua dor não será maior se você não tiver coisa alguma.

Nessa hora não faz diferença se você tem ajudantes, servos, atendentes e riqueza. Todos são causas de apego. O apego amarra-o, até mesmo o apego à sua divindade e ao Dharma. O apego do rico às suas mil onças de ouro e o apego do pobre à sua agulha e linha são igualmente amarradores. Abandone o apego que bloqueia a porta para a liberação.

Quando você morrer, não importará se o seu corpo for cremado numa pira de sândalo ou consumido por pássaros e cachorros em um lugar despovoado. Você continua, acompanhado por quaisquer ações boas ou más cometidas enquanto estava vivo. Seu nome ruim ou sua boa reputação, seu estoque de comida e riqueza, e todos os seus ajudantes e servos são deixados para trás.

No dia em que você morrer, precisará de um lama sublime, então procure um [de antemão]. Sem um lama você possivelmente não pode despertar para a iluminação, então siga um lama qualificado e realize tudo o que ele comandar.

Novamente o mestre disse: Ouçam aqui, pessoas afortunadas dos tempos futuros que seguem as palavras de Padmakara! Antes de tudo, quando embarcar no caminho, você deve ser diligente. Por muito tempo no passado, você foi engrossado na experiência deludida; por incalculáveis éons, tudo o que você fez foi desviado na delusão. Corte completamente esta delusão bem agora, enquanto você obteve um corpo humano.

Todos os seres sencientes são obscurecidos pela escuridão do ignorante solo de tudo. Quando a experiência dualista surgiu, ela foi solidificada através da fixação dualista. Não importa o que os seres sencientes façam, eles cometem atos miseráveis. Esta prisão de delusão das seis classes de seres é muito apertada!

É extremamente difícil obter um corpo humano. Tendo obtido-o, apenas algumas pessoas ouvem o nome do Buddha. Após ouvi-lo, é extremamente raro que alguém sinta fé. E mesmo sentido fé uma vez, após entrar no Dharma muitas pessoas, como bestas obstinadas, quebram seus samayas e preceitos e dirigem-se em decadência. Vendo estes seres sencientes, os bodhisattvas desesperam-se e eu, Padmasambhava, preocupo-me.

Tsogyal, em um lugar onde os ensinamentos do Buddha estão presentes, as pessoas que obtiveram um corpo humano perfeito têm acumulado um mérito infinito há inumeráveis vidas, mas eles ainda possuem o karma completo das seis classes de seres.

Alguns deles, ao ouvirem as qualidades do Buddha, incendeiam-se de apego e raiva, atormentados sobre se outras pessoas se interessarão também. Tendo se juntado aos seguidores dos ensinamentos de Buddha, eles atormentam-se sobre se o samsara será esvaziado. Este tipo de apego e raiva é a semente para os reinos do inferno. Em vidas futuras essas pessoas nascerão em lugares onde nunca ouvirão o nome das Três Jóias.

Vocês que vivem agora ou que aparecerão no futuro, e que ouviram corretamente às palavras de Padmakara — isto é o que vocês devem fazer: A fim de aproveitar o corpo humano que obtiveram, vocês precisam do Dharma sublime. As pessoas que se apegam e anseiam pelo prestígio e fama mundanos ao invés de praticarem o Dharma pertencem ao nível mais elevado entre os animais.

Se você duvidar disto, então pondere cuidadosamente: ficar ansioso sobre se este corpo é confortável, se ele vai durar, se alguém vai triunfar, se os íntimos serão beneficiados, se os odiados inimigos serão retribuídos da mesma forma — todas estas são coisas que as pessoas mundanas possuem. Os pássaros no céu, os ratos na terra, as formigas que vivem sob as pedras e rochas, todos também têm as mesmas coisas. Todos os seres sencientes têm-nas.

Ter inimigos menos prejudiciais que os outros seres é simplesmente o nível mais elevado entre os animais. A fim de praticar o Dharma você deve perder totalmente o apego a um país. Sua terra natal e o lugar de nascimento do apego e da raiva.

Mantenha tanta comida e riqueza que seja suficiente de tomar e carregar. Faça isso até que você perca totalmente ao apego à comida e às roupas. Não mantenha posses que se tornem uma distração. Procure um lugar não freqüentado pelas pessoas selvagens. Mantenha a comida que seja simplesmente suficiente para sustentá-lo, viva em solidão, livre da companhia.

Primeiro, purifique seus erros. Depois, olhe para a sua mente! O fato de o estado natural da mente não durar, mas ainda sim projetar pensamentos, é uma prova de que é vazio. A ocorrência ininterrupta de pensamentos projetados é a sua claridade cognitiva. Não exerça a projeção de pensamentos. Não se apegue à claridade cognitiva. Ao relaxar sua atenção e reconhecer sua essência, sua consciência natural alvorece como o dharmakaya.

Às vezes, faça práticas para limpar as máculas e trazer melhoramentos. Se você puder seguir meu testamento deste modo, atingirá o estado de Vajradhara nesta mesma vida.

Tsogyal, alguém com uma forma marrom escura e irada aparecerá próximo do final dos ensinamentos de Shakyamuni. Por isso, esconda estas minhas palavras dentro de uma pequena caixa de pele de rinoceronte marrom.

Assim ele disse.

O testamento do mestre Nascido do Lótus de Uddiyana intitulado o Cravo de Jóia é completado aqui.

Isto foi revelado por Rigdzin Gödem, o Vidyadhara com a Penugem de Abutre, do tesouro branco ao leste.

Samaya, selado, selado.

Possa ser virtuoso.

Possa ser virtuoso.

Possa ser virtuoso.

Sarva Mangalam.
(Advice from the lotus born: a collection of Padmasambhava's advice to the dakini Yeshe Tsogyal and other close disciples. Introdução de S.E. Tulku Urgyen Rinpoche, tradução de Erik Pema Kunzang e edição de Marcia Binder Schmidt. Kathmandu: Rangjung Yeshe, 1994. Pág. 25-33.)

Guru Padmasambhava

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