quarta-feira, 14 de setembro de 2016

A Essência Refinada das Instruções Orais

A senhora Tsogyal de Kharchen serviu o nirmanakaya Orgyen Padmakara a partir do seu oitavo ano, acompanhando-o como a sombra segue o corpo.
Quando o mestre estava prestes a abandonar o Tibete para partir para a terra dos Rakshas, eu, senhora Kharchen, tendo oferecido uma mandala de ouro e turquesa e tendo girado uma roda de oferendas, implorei:
Oh, Grande Mestre! Tu estás a partir para domar os Rakshas.
Deixas-me para trás, aqui no Tibete.
Embora te tenha servido durante tanto tempo, mestre, esta velha não tem confiança no momento da morte. Por isso, rogo-te que amavelmente me dês uma instrução condensando todos os ensinamentos num só, concisa e fácil de praticar.
O grande mestre respondeu:
Devotada, com uma mente fiel e virtuosa, escuta-me.
Embora haja muitos pontos-chave profundos do corpo, relaxa-te e descontrai-te.
Tudo está incluído simplesmente nisso.
Embora haja muitos pontos-chave do discurso, como o controle da respiração e recitação de mantras, para de falar e descansa como uma pessoa muda.
Tudo está incluído simplesmente nisso.
Embora haja muitos pontos-chave da mente como a concentração, o relaxe, a projeção, a dissolução e a focagem interior, tudo está incluído no simples facto de repousares no estado natural, solta e leve, sem qualquer esforço.
A mente não permanece sossegada nesse estado.
Se alguém se interrogar:
«Ela não é nada?»,
como a névoa ao calor do Sol, ainda brilha e cintila.
Mas se alguém se interrogar:
«Ela é alguma coisa?»,
não tem cor nem forma para se identificar, mas é plenamente vazia e completamente desperta - essa é a natureza da tua mente.
A intenção é reconhecê-la como tal, ter plena certeza do que ela é.
Ficar concentrado no estado de quietude, sem fixação, isso é meditação.
Nesse estado, a ação é ficar-se livre de anseios e apegos, aceitações ou rejeições, temores ou esperanças, qualquer das experiências dos seis sentidos.
Seja qual for a dúvida ou hesitação que ocorra, suplica ao teu mestre:
Não permaneças em lugares de gente vulgar; prática em reclusão.
Desiste de te agarrares a tudo que mais te atraia, bem como a quem quer que seja, a que te sintas fortemente ligada nesta vida, e prática.
Assim, embora o teu corpo permaneça em forma humana, a tua mente é igual à dos budas.
Na altura de morreres, deves praticar da seguinte maneira:
Como a terra a dissolver-se na água, o corpo torna-se pesado e não se pode sustentar a si mesmo.
Como a água a dissolver-se no fogo, a boca e o nariz secam.
Como o fogo a dissolver o vento, o calor do corpo desaparece.
Como o vento a dissolver-se na consciência, exalamos com estrondo e inalamos com um arfar.
Nessa altura, tens a sensação de ser esmagada por uma grande montanha, de estares rodeada de trevas, ou de teres sido largada num grande espaço vazio.
Todas estas experiências são acompanhadas por sons tonitruantes e tinidos.
Todo o céu se torna vividamente brilhante como um brocado desfraldado.
Além disso, também as formas naturais da tua mente, as deidades pacíficas, iradas, semi-iradas e as que possuem diversas cabeças, enchem o céu com uma cúpula de luzes irisadas.
Brandindo armas, exclamam:
«Bate! Bate!», «Mata! Mata!», «Hung! Hung!», «Phat! Phat!» e outros sons temíveis.
A par disso, haverá luzes como cem mil sóis a brilhar ao mesmo tempo.
Nessa altura, a tua deidade inata recordar-te-á a consciência, dizendo:
«Não te distraias! Não te distraias! »
O teu demônio inato perturbar-te-á com todas as tuas experiências, fazendo-as entrar em colapso e pronunciará sons agudos e terríveis para te confundir.
Nessa altura, lembra-te disto:
O sentimento de esmagamento não é o de seres esmagada por uma montanha.
São os teus próprios elementos a dissolverem-se.
Não receies isso!
A sensação de estares encurralada dentro de trevas não são trevas.
São as faculdades dos teus cinco sentidos a dissolverem-se.
A sensação de seres arremessada para o vazio não é a sensação de queda.
É a tua mente sem apoio, porque o teu corpo e a tua mente separaram-se e a tua respiração parou.
Todas as experiências das luzes irisadas são as manifestações naturais da tua mente.
Todas as formas pacíficas e iradas são as formas naturais da tua mente.
Todos os sons são os teus próprios sons.
Todas as luzes são as tuas luzes.
Não tenhas dúvidas quanto a isso.
Se duvidares, serás arremessada para o samsara.
Sabendo que isso é uma auto manifestação, se repousares bem desperta no vazio luminoso, então atingirás os três kayas e receberás a iluminação.
Mesmo que sejas lançada no samsara, não irás lá parar.
A deidade inata é o teu presente a tomar conta da tua mente com recolhimento imperturbado.
A partir desse momento, é muito importante não teres nem temor nem esperanças, nem afetos nem fixação face aos objectos dos teus seis sentidos, nem também te prenderes à fascinação, à felicidade e à pena.
A partir de então, atingirás a estabilidade e serás capaz de assumir o teu estado natural no bardo e tornares-te iluminada.
Portanto, o ponto mais vital é manteres a tua prática imperturbada a partir desse mesmo momento.
O demônio inato é a tua presente tendência para a ignorância, a tua dúvida e hesitação.
Nessa altura, sejam quais forem os fenômenos tremendos que aparecerem como sons, cores e luzes, não te deixes fascinar, não duvides e não te enchas de receio.
Se caíres na dúvida por um simples momento, vaguearás pelo samsara, pelo que deves adquirir completa estabilidade.
Nesse ponto, as entradas das entranhas parecem-se com palácios celestiais.
Não te deixes atrair por elas. Assegura-te disso!
Liberta-te da esperança e do medo.
Juro-te que não há dúvida de que nesse momento ficarás iluminada sem assumires mais renascimentos.
Nessa altura, ninguém é ajudado por um buda.
A tua própria consciência está primordialmente iluminada.
Ninguém é prejudicado pelos infernos.
Estando a fixação naturalmente purificada, o medo do samsara e a esperança pelo nirvana são cortados pela raiz.
Tornar-se iluminado pode comparar-se à água limpa de sedimentos, ao ouro isento de impurezas, ou ao céu limpo de nuvens.
Tendo alcançado o dharmakaya semelhante ao espaço, para o benefício próprio, cumprirás o benefício dos seres sencientes até à máxima extensão do espaço.
Tendo atingido o sambhogakaya e o nirmanakaya para o bem-estar dos outros, beneficiarás os seres sencientes na máxima extensão em que a tua mente abarque os fenômenos.
Se esta instrução for dada três vezes mesmo a um grande pecador como o que matou o próprio pai e mãe, não permanecerá no samsara mesmo que tenha sido lançado para ali.
Não há dúvida quanto a ficar iluminado.
Mesmo que tenhas muitos outros ensinamentos profundos, sem uma instrução como esta, permanecerás muito longe.
Como não sabes por onde vaguearás a seguir, entrega-te com perseverança à prática.
Deves dar esta instrução oral aos receptores que possuam grande fé, forte diligência e que sejam inteligentes, que sempre se recordem do seu mestre, que tenham confiança nas instruções orais, que se entreguem à prática e que sejam decididos de mente e capazes de não estar ligados às preocupações com este mundo.
Dá-lhes esta instrução com o selo da confiança, com o selo do yidam do secretismo e com o selo de confiança do dakini.
Embora eu, Padmakara, tenha seguido muitos mestres durante três mil e seiscentos anos, requerido instruções, recebido ensinamentos, estudado e ensinado, meditado e praticado, não descobri nenhum ensinamento mais profundo do que este.
Eu vou amansar os Rakshas. Deves praticar da seguinte maneira.
Mãe, tornar-te-ás iluminada no reino celestial.
Portanto, persevera neste ensinamento.
Tendo falado, o Guru Rinpoche montou nos raios do Sol e partiu para a terra dos Rakshas.
Depois disso, a Senhora Tsogyal atingiu a libertação.
Decidiu escrever este ensinamento e cerrou-o como se de um profundo tesouro se tratasse.
Teve esta aspiração:
no futuro, podia ser dado ao Guru Dorje Lingpa.
Que beneficie muitos seres.
Isto completa a Sagrada Instrução da Essência Refinada, resposta a perguntas sobre a auto-libertação no momento da morte e no bardo.

SAMAYA, SEAL, SEAL, SEAL.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Conselho Sobre Como Praticar as Instruções Profundas


O mestre ofereceu ao rei este conselho:
Vossa Majestade, pratique o significado destas instruções.

Não há paz dentro dos reinos do samsara,
A paz é encontrada no estado desperto.
Através do esforço o estado desperto nunca é alcançado,
Ele não é alcançado pelo esforço, mas pela não interferência relaxada e por nunca se esforçar.

Pela rejeição o samsara não é deixado para trás,
Ele é liberado por si mesmo ao não interferir relaxadamente.
As suas tentativas de curar suas misérias não trouxeram paz,
Você estará em paz ao não interferir relaxadamente.

Você não encontra felicidade nos desejos intensos,
Apenas quando os deixa de lado.
O apego não é cortado tentando evitá-lo,
Apenas pela repulsa ele é verdadeiramente cessado.

As instruções não são encontradas desejando-as,
Você as obtém ao encontrar um mestre.
Você nunca recebe bençãos apenas pedindo,
Elas vêm quando você gerou devoção.

Rei, você encontrará a felicidade quando o Dharma for seu companheiro regular.
Abandone as ocupações que o distraem e abrace a natureza da visão e da meditação.
Permaneça no estado de igualdade do dharmakaya que está além dos surgimentos.



O rei ficou encantado, cumprimentou e circum-ambulou o mestre com profunda fé e respeito.

Guru Padmasambhava

Guru Padmasambhava